quinta-feira, 30 de abril de 2009

79ª Feira do Livro de Lisboa e novidades

A 79ª edição da Feira do Livro de Lisboa começa hoje e termina no dia 17 de Maio. Vão até ao Parque Eduardo VII, comprem livros e divirtam-se.

Eu vou estar no stand das edições Saída de Emergência no dia 10, às 15H30. Levo uma caneta.

Vai ser uma pausa que vou fazer na escrita do novo romance que, assim espero, ficará pronto a tempo de ser editado este ano. Vou fazer os possíveis, mas a história é grande, complexa e continuo a ler material de referência. Em essência, estou a suar em bica e a colocar os carris à frente do comboio, que avança a grande velocidade. Escrever o livro é a única coisa que me interessa e qualquer interrupção põe-me numa pilha de nervos, mas vocês não precisam de ficar enervados com nada: garanto-vos que será um belíssimo trabalho. Acham que vos iria enganar?

O meu álbum de banda desenhada, Mucha, está quase todo desenhado pelo Osvaldo Medina. A seguir conto com o talento do Mário Freitas para arte-finalizar e cuidar para que fique tudo negro como o Diabo. E não é que ele já fez a capa e tudo? Ficou um espanto. Fiquem atentos que, em breve, darei mais notícias.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Atavismos #1

Chamo a atenção para este post do Luís Filipe Silva, que considerei pertinente e curioso. É a partir da sua leitura que teço a seguinte lucubração.

Nunca dei crédito à noção que as nacionalidades (conceito discutível - e inventado no século XVIII) se encontram imbuídas de características ingénitas; e o estudo da ciência e da história demonstra, sem espaço para dúvidas, que isso se trata de um mito bastante perigoso para a saúde. Mesmo assim, uma análise rigorosa talvez venha a descobrir que certos hábitos e ideais, quando transmitidos em jeito memético, tanto de modo horizontal como vertical, possam operar efeitos que, à falta de melhor adjectivação, sejam entendidos como manifestações atávicas. A imitação de comportamentos é um mecanismo natural da nossa espécie.

Costuma dizer-se que o "Problema Português", como aparece descrito na comunicação social, se relaciona com o atavismo: que somos saudosistas e indolentes; sonhadores e poetas. Enfim, um sem-número de buzzwords, que, demasiadas vezes, até são instrumentalizadas para nos fazer acreditar que se tratam de pedaços da nossa personalidade e conduzir-nos a determinados comportamentos.

Parece que uma das faces do nosso atavismo é, como muito bem escreveu o Luís, a falta de atrevimento para agarrar no passado e olhá-lo de outras maneiras.
Quando eu era miúdo não queria tocar na história de Portugal, nem com uma vara de cinco metros, por culpa da educação histórica, arreigada aos mitismos inventados pelo Estado Novo que as minhas professoras do ensino básico me apresentaram: os portugueses eram uns heróis, uns aventureiros e, sobretudo, uns beatos. Mais tarde, felizmente, descobri que as coisas, em última análise, se tinham passado de outro modo e comecei a gostar (e muito) de ler e aprender sobre a nossa história. Mais tarde, ainda, comecei a interrogá-la nos meus livros.

Na minha opinião, e já a exprimi de modo mais eloquente aqui, o problema da nossa, aparente, falta de imaginação e audácia literária reside no período demasiado longo em que este país esteve sob o jugo inquisitorial.
Não é novidade: é que nenhum país, no qual a influência da igreja católica seja, ou tenha sido, fortíssima, se encontra uma tradição de literatura fantástica. Este género literário, em qualquer das suas manifestações mais apuradas, é uma herança dos países de tradições religiosas protestantes. Dizer que aprovo uma religião em prejuízo da outra é não compreender o meu raciocínio: o que estou a fazer, espero, é a demonstrar que quando certos sistemas de pensamento, hostis à interrogação, à imaginação e ao livre discurso, se erguem, temos o caldo entornado.
Basta deitar o olho a essas excitantes fantasias que a máquina propagandista de Salazar inventou para nos fazer sonhar com um Portugal pequenino, rural, medieval. Olhar para pretéritas Ilhas Douradas, ao mesmo tempo que se despreza o mundo moderno, é uma característica fundamental do imaginário fascista: e a teocracia de Salazar foi um regime fascista; em muita coisa semelhante ao Estado Corporativo de Mussolini, mas com umas suásticas e umas Nossas Senhoras à mistura.

(Rezem, meu filhos, rezem. Rezem muito e pensem pouco. Ou nada, que ainda é melhor.)

sábado, 25 de abril de 2009

Cravos

Estive há poucas horas na Praça de Luís de Camões, em Lisboa, para assistir à chuva de cravos que consistiu uma das partes integrantes do programa municipal de comemorações alusivas ao trigésimo quinto aniversário do feriado nacional 25 de Abril. Foi muito curioso ver como os indivíduos puseram de lado, por breves momentos, o vulgar cinismo cosmopolita para se deixarem deslumbrar por algo, em simultâneo, tão simples, mas tão forte. Eu gostei. Foi uma boa ideia.
Outro tipo de cravos são as flores vermelhas das plantas carnívoras que medram à barba longa pelos fotogramas do filme The Ruins, de Carter Smith, a adaptação cinematográfica do romance homónimo de horror escrito por Scott B. Smith, no qual um grupo de jovens se vê no meio de um jardim dos prazeres às avessas, embrenhado na selva da América Central. Eu vi, ontem à noite, e gostei: está bem-feito, realizado com um inesperado sentido de economia, e a fotografia lembrou-me os velhinhos filmes italianos de canibais que fizeram as minhas delícias, e as de muita boa gente, nas tardes em que não se fazia mais nada depois das aulas a não ser ver os filmes chungas de terror alugados no clube de vídeo. Muitas piroseiras vi nesses dias de adolescência, mas The Ruins, felizmente, não tem nada de piroso: é jeitoso e vale a pena o preço do bilhete. O final funcionaria melhor se a última cena tivesse sido inserida após os creditos finais e não no epílogo, mas isso são outros quinhentos... Enfloramentos.

(Este período de crise faz com que toda a gente leve as mãos à cabeça,
diante de qualquer grande buraco.)

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Novo romance (work in progress)

Um vislumbre à minha secretária, nesta fase de escrita intensiva.
Gostava que os dias fossem maiores, porque esperam-me muitíssimas páginas pela frente e ambiciono terminar o romance este ano. Porém, não vou apressar nada: trata-se de um livro complexo que exige muita concentração.
Ainda é cedo para revelar pormenores, ou publicar excertos, mas, daqui a uns tempos, prometo pôr aqui um trecho para que possam sentir o pulso à obra. Até lá, podem ler, em exclusivo, uma única frase que seleccionei só para vocês.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

MUCHA (work in progress)

Apresento-vos duas pranchas da banda desenhada Mucha: escrita por mim, desenhada por Osvaldo Medina e arte-finalizada por Mário Freitas. Será editada este ano pela Kingpin Books.

É uma felicidade enorme ter encontrado parceiros tão talentosos e entusiastas. Tanto a arte do Osvaldo como a do Mário dispensam comentários: comprovem.

(A primeira prancha, servida por uma belíssima arte-final,
cortesia de Mário Freitas.)

(A quinta prancha, na qual se verifica que o Osvaldo é um desenhador brilhante.)

Mucha estará pronto por alturas do próximo Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora. Conto convosco para lerem este meu regresso à BD. Ainda é cedo para revelar pormenores sobre a história, mas prometo-vos que o horror vai entrar pela porta grande.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Triple thrash treat

Três belas canções para cantarolarem à boca fechada: a primeira é Dunwich (Horror) dos Electric Wizard. O vídeo foi feito sobre planos retirados do filme The Dunwich Horror (1970), realizado por Daniel Haller (Battlestar Galactica), escrito por Curtis Hanson (L.A. Confidential) e produzido por Roger Corman. Os Electric Wizard são a única banda capaz de cantar sobre temas lovecraftianos e pirosos sem ela própria soar pirosa, mas muitíssimo lovecraftiana.
Em segundo lugar, Maiden, Mother, Crone dos The Sword. Uma das bandas que melhor está a saber gerir a herança gloomy deixada pelos Black Sabbath.
Por último, os Wolfmother com The Joker & the Thief, ao vivo no Rock Am Ring 07. Vale a pena.




terça-feira, 14 de abril de 2009

Novidades

Já me chegaram às mãos as pranchas que o Osvaldo Medina está a desenhar para a banda desenhada que eu escrevi, intitulada Mucha, e que será editada este ano pela Kingpin Books. A arte do Osvaldo está a ficar excelente: é daqueles artistas a quem posso pedir para desenhar tudo porque ele tudo sabe desenhar. É uma grande felicidade. O Mário Freitas vai arte-finalizar e cuidar para que o resultado final fique negro como manda o figurino. Quem andava à espera de mais um trabalho meu em BD terá aqui algo bem azedo onde ferrar o dente; e com cúmplices tão talentosos quantos estes, eu próprio quero dar uma dentada.

O meu novo romance creeesce!... Tal como eu imaginava, também cresceu em complexidade. Vou tentar terminar esta caixa-chinesa por alturas do Verão para ser publicada este ano pelas edições Saída de Emergência. O rigor histórico está ainda mais rigoroso e os elementos fantásticos estão ainda mais fantásticos. A história, que tem como tema algo que eu considero muito intrigante, falará sobre... Bom, se calhar, por agora, basta dizer que terá como personagens algumas das mais ricas (e misteriosas) figuras da nossa história e que será negríssima.

Este ano também vai ser publicada a edição especial de A Conspiração dos Antepassados, o meu romance sobre o encontro entre o poeta Fernando Pessoa e o mago Aleister Crowley, na Lisboa dos anos trinta.
Aqui fica a entrevista que eu dei para o weblog Um Fernando Pessoa, do autor Nuno Hipólito, aquando da publicação da primeira edição do romance.

Como diz o pregão, não há duas sem três. Por isso, estou aqui a sorrir de orelha a orelha e a perguntar: será que é este ano que faço o triatlo e ponho três livros cá fora? Era obra.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Vigiar e punir

No próximo Sábado, dia 4, pelas 17H00, terei o prazer de estar no Espaço Chili para apresentar o álbum de banda desenhada Prison Stories da autoria do croata Igor Hofbauer e publicado no nosso país pela mmmnnnrrrg, editora ao autor independente de banda desenhada Marcos Farrajota.

Este livro encerra um conjunto de histórias cujos elementos de união são situações de cativeiro; físico e psicológico. Simbólico, Prison Stories possui um sentido estético que, às vezes menos e às vezes mais, me remeteu para alguma arte gráfica soviética. Na verdade, o design do Leste tem muito que se lhe diga: em jeito de rebuçado até posso avançar com a ideia que, assim como o GPS e a comida em lata, trata-se de mais um produto de guerra que medrou no mundo, depois de se extinguirem as características especiais que assistiram ao seu nascimento. Já viram posters de filmes desenhados por artistas da Europa do leste?

(Obcy, de 1979. Poster do filme Alien de Ridley Scott, desenhado pelo polaco Jakub Erol.)

(Poster do filme King Solomon's Mines de J. Lee Thompson,
desenhado pelo polaco Jakub Erol. 1985)

Agora observem estes dois posters desenhados por Igor Hofbauer.


Eu gostava de ver arte deste género espalhada pelas ruas de Lisboa, em vez das amostras de design sonífero, à la brochura do Pingo Doce, que, infelizmente, pululam por aqui. (Felizmente temos o João Maio Pinto, artista português que está a realizar um trabalho original e inteligente nesta área dos cartazes para concertos - e não só.)

Venham descobrir Prison Stories no próximo sábado, pelas 17H00, no Espaço Chili.