domingo, 8 de agosto de 2010

Uma doença excêntrica do mercado do livro

O Almanaque do Dr. Thackery T. Lambshead de Doenças Excêntricas e Desacreditadas, compêndio fabuloso de síndromes e maleitas imaginárias, inventadas por um conjunto dos melhores autores actuais de literatura fantástica, e editado em português pelas edições Saída de Emergência, corre o sério risco de passar abaixo do radar dos seus leitores em potência, porque alguns livreiros o andam a arrumar nas estantes erradas. Num périplo que fiz por algumas das melhores e mais concorridas livrarias de Lisboa encontrei este livro, que é de ficção fantástica, disposto nas secções de Saúde e Enfermagem, Medicina e até Esoterismo.

Este erro é, no meu entendimento, incompreensível, pois na própria contracapa do livro está expresso o género ao qual ele pertence (como, aliás, é apanágio de todos os títulos editados pela Saída de Emergência), já com o objectivo de esclarecer os livreiros e desfazer possíveis confusões antes delas acontecerem. Isso, pelos vistos, associado às informações pormenorizadas dos presses-releases editoriais, ainda não é suficiente e várias vezes pode-se encontrar livros expostos em locais inesperados. Contudo, nunca tinha visto um caso de troca de identidade tão excêntrico como este que envolve o Almanaque do Dr. Thackery T. Lambshead de Doenças Excêntricas e Desacreditadas.

Poderia aproveitar este post para discorrer sobre o estado de acefalia crónica a que chegou o mercado do livro e o modo pré-formatado com que este é etiquetado, exposto e comercializado às massas, cada vez mais desprevenidas e desenraizadas, por livreiros que já não são especializados e que às vezes mais parecem revisteiros, na ânsia de promover a rotatividade dos títulos em exposição de maneira a encontrar uma galinha dos ovos de ouro todas as semanas.
Mas não vale a pena.
Como insistiu (é a palavra certa) um livreiro a quem fui avisar da má colocação do Almanaque na sua superfície comercial: «O colega da Saúde achou que o livro ficava bem ali e é ali que vai ficar.» Se o "colega da saúde", insigne especialista em literatura como é evidente, achou que o livro ficava bem onde foi arrumado, então, está tudo dito. Alguém devia dizer a certos empregados das livrarias que nem toda a gente que entra nas suas superfícies comerciais são patetas sem referências, em busca do livro do Cristiano Ronaldo: alguns são críticos, jornalistas e, no meu caso, escritores que além de odiarem ser tratados com condescendência, ainda podem lembrar-se de emitir opiniões desfavoráveis nos seus veículos públicos de expressão sobre o modo como foram tratados.