segunda-feira, 13 de junho de 2011

"Batalha": esta sexta-feira nas livrarias


Batalha (Saída de Emergência), o meu novo romance, chega às livrarias na próxima sexta-feira.

Tal como a sinopse anuncia, consiste num romance em que o fenómeno religioso é observado pelo ponto de vista dos animais. Além disso, é um romance hermético, alquímico, e, em muitos pontos, uma alegoria maçónica que se inscreve na minha reflexão sobre esses temas que tenho vindo a desenvolver nos meus trabalhos anteriores.

Batalha é, também, um romance sobre linguagem: um romance de palavras, em que as palavras têm, de facto, importância.
É um livro do qual me orgulho imenso. Descubram-no, a partir da próxima sexta-feira.
Com ilustrações do artista Daniel Silvestre Silva.
«Tal como a rancidez se regozija com o ar desprotegido, também a nudez vulnerável é o estado espontâneo da cópula. Nus, todos os bichos são lesáveis e a vulva é uma mitene que só cobre o pénis, deixando o resto do corpo ao capricho do contágio — neurotomias naturais que a todos deixam indefesos. A reprodução é regular, sem sobressaltos, como uma colónia de fungos rompendo a casca grossa dos carvalhos; e, em jeito de alcalóide amanitário, o amor escorre pelos troncos cerebrais abaixo, como vinho entornado: o símbolo universal da alegria, da sorte. O sal desperdiçado, símbolo universal da tristeza, do azar, somos nós todos, nos começos das nossas vidas: brutos, informes, impuros, sem o conhecimento das relações sensuais e da morte. Precisamos, por isso, de ser ungidos, purificados e diluídos com vinho — com sexo e deterioração — de modo a crescer, a amadurecer, a salinar. Só então podemos ambicionar a ser completos, adultos, mas Batalha, repudiando a oferta de Caldaça, estaria sempre perdido, como um infante anquilosado ao crisol, ao colo do útero. Conjuctio do macho e da fêmea — estado principal da Grande Obra, na qual toda a gente participa ou assiste — que gera a Luz: fetos incandescentes, sangrantes e vermelhos como o Sol, que choram e, com esse plangente anúncio, dão início à contagem do tempo — dos seus tempos, porque não existem outros.
O tempo é apanágio da matéria viva — os mortos não precisam dele.
Os mortos não precisam de nada.
E, por mais que fingisse estar morto, no interior do profundo buraco acabado de escavar, com a intenção de ser a sua sepultura, Batalha podia sentir a vida que ainda lhe pulsava no pénis turgescente, nas veias urziformes e na língua ressequida.
Do que é que precisava?»