quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

«Tertúlia Assombrada» nesta sexta-feira no bar 100 Artes


Nesta sexta-feira, dia 6, às 18H00, estarei no bar 100 Artes (Rua dos Fanqueiros, 162, Lisboa) como convidado especial da segunda edição da Tertúlia dos Contadores de Histórias, organizada pela filial lisboeta da iniciativa Timebank.cc, e que terá o Horror como tema: será a Tertúlia Assombrada.

Consistirá, pois, numa sessão de leituras de contos de horror, lidos pelos diversos participantes no evento.
Eu irei ler o conto Os Filhos Que a Lua Dá: ou, Problemas De Um Projeccionista de Pornografia (que foi publicado na revista LOUD! do passado mês de Maio).

Sobre a organização da Tertúlia dos Contadores de Histórias, informo que a iniciativa Timebank.cc consiste numa forma de economia alternativa ou complementar. Diferencia-se dos chamados mercados de trocas, por não implicar uma troca directa (nem imediata, nem recíproca), e das ditas moedas comunitárias, por haver uma rigidez quanto à unidade de câmbio: neste caso, tanto o crédito quanto o débito são contabilizados de acordo com o tempo dos serviços prestados pelos utilizadores, independentemente das suas naturezas. Havendo sempre a necessidade de um "banco" central que faça a gerência da quantidade de horas em circulação, mais o registo de créditos de cada utilizador, o Timebank.cc distingue-se pelo facto de disponibilizar uma gestão online.

Conto com a vossa presença e agradeço a divulgação do evento. Deixo-vos com um trecho do conto Os Filhos Que a Lua Dá: ou, Problemas De Um Projeccionista de Pornografia, que irei ler:
«Concentrando-se no projector para não ver nem o filme, nem os espectadores, Albuquerque interrogou-se sobre qual seria a razão pela qual o onanismo não era um dos Sete Pecados Mortais, posto que Deus até assassinara um homem por culpa disso. Seria o Oitavo Pecado: uma nova venialidade, incrustada entre a luxúria, a ganância e a gula. ‘Oito pecados mortais’, pensou Albuquerque. ‘Oito caminhos para o Inferno.’ Qual seria o castigo infernal para os fricativos? Na costumeira coerência contrapassiana com que eram elaborados esses suplícios, teriam de se polir com fogo até a vergonha incendiada tornar-se tão catóptrica quanto metal lustroso. Humiliate pene vestra. O ritual masturbatório era feiticista, de facto – e, assim sendo, feiticeiresco. Que sortilégios pretenderiam os velhos operar com as efusivas esfregações? Que autoridade encoberta se revelava nas suas varinhas viris? Seria o sexo uma arte mágica, como as banais benzeduras e as venerações dos videntes? De cabeça baixa, Albuquerque apercebia-se das moções projectadas no lençol como se fossem sombras dançarinas nas paredes do seu crânio: afinal, que culto venéreo se prestava naquela praça, sob a égide do faliforme tóteme tartéssico? Seria clarividente o suficiente para descortinar se era um sonho ou o “agora”? No lençol, a mulher curvou-se para desencobrir a virilha do homem, a imagem ampliou-se e os velhos viram-se estupefactos diante de um grande olho. O espanto da assistência despertou Albuquerque das suas contemplações: achou que aquilo era estranho, mas não deu importância.»