segunda-feira, 29 de julho de 2013

LOUD! de Agosto nas bancas


"Primeiro de Agosto, primeiro de Inverno", diz o pregão - e o olhar lapidescente de Phil Anselmo, capaz de gelar a espinha a um senhor feudal, diz-nos que nem sequer precisamos de consultar o almanaque Borda d'Água para nos certificarmos que esta entrada no oitavo mês de 2013 não contradirá a sabedoria popular: no universo da música pesada, a atmosfera está bem abacinada, como é costume e como deve ser.
Assim, creiam que a LOUD! de Agosto já é a nuvem mais negra de um Verão que todos os prognosticadores caracterizaram de "anti-Verão", por excelência: ora, nenhum deles previu que a tempestade traria, de uma só vez, entrevistas com Watain, Gorguts, Deafheaven, Revocation e, sobretudo, com Phil Anselmo, conhecido do público generalista por ter sido o vocalista de Pantera, mas que, nos últimos anos, revelou ser uma das personalidades mais versáteis e criativas do Metal. O mote para a entrevista exclusiva, de seis páginas, que deu à LOUD! é a edição do seu novo disco a solo Walk Through Exits Only.

Para tornar o clima ainda mais castigador, este número da revista traz uma crónica minha, como é habitual, na minha secção Consultor Funerário. É uma observação histórica para ser lida em cotejo com os acontecimentos recentes das últimas semanas: consiste num contributo para que ao mesmo tempo que se tire a areia das sandálias também se tire a areia dos olhos. Ou seja: que a rentrée nos encontre a todos ainda mais argutos, informados e inconformados do que temos estado.
 

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Viagem pelo século XX musical com João Morales


João Morales, director do festival literário Livros a Oeste (Biblioteca Municipal da Lourinhã) e dos ciclos de debates Com Todas as Letras (Sociedade Portuguesa de Autores), mas também jornalista com vastíssima experiência profissional nos campos da literatura e da música, irá ministrar um curso de formação sobre a música do século XX na Universidade Lusíada de Lisboa: é, pois, uma Viagem Pelo Século XX Musical; entre os estilos a estudar encontram-se os movimentos vanguardistas do início do século (o Futurismo italiano, a Escola de Viena, a obra do compositor francês Edgard Varèse), o free jazz, o rock progressivo e o legado do músico norte-americano Frank Zappa.

O curso terá oito horas de duração, em quatro sessões de duas horas cada, nos dias 17, 18, 19 e 20 de Setembro, sempre das 18H00 às 20H00.

Podem ler mais informações pormenorizadas sobre o curso nesta ligação: http://www.lis.ulusiada.pt/formacao/2013/vsxxm.aspx 

O formulário de inscrição é o seguinte: http://www.lis.ulusiada.pt/formacao/2013/formulario.aspx 

Inscrevam-se e divulguem, porque será de enorme interesse - não só para melómanos, como para estudiosos da contemporaneidade, em geral, porque a música de uma sociedade reflecte as suas problemáticas e ambições.
 

quarta-feira, 24 de julho de 2013

«Suicidas»: novo livro de poesia de Henrique Fialho


Suicidas, o novo livro do poeta e ensaísta Henrique Fialho (O Meu Caderno Azul, Estranhas Criaturas, A Dança das Feridas), será lançado no próximo dia 26 (sexta-feira), às 21H00, no espaço cultural Casa dos Barcos (Parque D. Carlos I, Caldas da Rainha). A apresentação será feita pelo autor José Ricardo Nunes.
Uma edição da Deriva Editores.

Passem a palavra e apareçam.

sábado, 20 de julho de 2013

Morte da Livraria Sá da Costa


A centenária livraria lisboeta Sá da Costa, de portas abertas no coração do Chiado desde 10 de Junho de 1913, foi declarada insolvente pelos seus credores e extinguiu-se.

A importância do papel que a Livraria Sá da Costa desempenhou na cultura portuguesa foi - e é - inestimável: como exemplo, basta mencionar a Colecção Clássicos Sá da Costa, que a preços de capa muito baixos disponibilizou obras verdadeiramente essenciais para a formação literária e intelectual de todos os leitores. Títulos como as quatro Décadas de João de Barros (autor quinhentista que escreveu a primeira gramática da língua portuguesa, em 1540: ninguém poderá compreender aquilo que foi o século XVI português sem ter lido a sua tetralogia fundamental), os Diálogos de Roma de Francisco D'Ollanda (um dos nossos mais importantes e ilustres criadores), as cartas e a poesia completas de Sá de Miranda (pai do soneto português), a poesia de Bocage, a obra completa de Gil Vicente, o indispensável A Corte na Aldeia de Francisco Rodrigues Lobo (quem nunca leu este livro não conhece com profundidade o nosso século XVII), a grande obra O Verdadeiro Método de Estudar do iluminista Luís António Verney (sobre o qual escrevi há poucas horas), a obra (quase) completa do Padre António Vieira (mas escrita em português, não em "acordês"), as crónicas do Cavaleiro de Oliveira (pseudónimo do escritor setecentista Francisco Xavier de Oliveira, pioneiro na denúncia corajosa contra a Inquisição), os relatos superiores de Frei Luís de Sousa (necessários para compreender-se convenientemente a sociedade quinhentista portuguesa), mas também obras de escritores contemporâneos, como António Sérgio ou Carlos de Oliveira.

Era este o calibre dos livros de bolso editados há uns anos.
Hoje, quem os lê? (E quem os edita?)
Quem é que sabe quem foram estes autores?
Mas, por outro lado, talvez se saiba de cor os nomes dos concorrentes dos reality shows que estão a passar neste momento nos canais televisivos, os nomes de todas as namoradas que o Cristiano Ronaldo já teve ou os enredos de todas as telenovelas que são transmitidas diariamente, em muitos casos, umas a seguir às outras. E, no entanto, não se sabe quem foi Sá de Miranda, nem Rodrigues Lobo, muito menos quem foi Francisco D'Ollanda.
Vivemos em tempos bem miseráveis, mas, lá está!, cada um sentir-se-á confortável em escolher aquilo que lhe é mais adequado: não é obrigatório ler bons livros, assim como não é obrigatório encher de lixo a cabeça.
É muito natural que cada um escolha aquilo que é mais adequado às suas capacidades.

Infelizmente, o lixo quase sempre sai a ganhar, vá lá saber-se porquê; e a Livraria Sá da Costa - à qual agradeço a edição de títulos vitais (neste momento até tenho alguns à frente, sobre a secretária, que estou a consultar para a escrita de um novo trabalho) - acabou. Os credores exigiram-lhe a extinção para saldarem-se as dívidas - se, em vez de uma livraria, a Sá da Costa fosse um banco teria, certamente, recebido fundos milionários para ser resgatada.
Por toda a Baixa Pombalina é possível ver-se dezenas de agências bancárias construídas nas carcaças deixadas vazias pelos cafés típicos que foram fechando: é possível que o mesmo fenómeno aconteça com as preciosas livrarias que vão morrendo, também, pela Baixa e arredores. Confesso a minha confusão e angústia quando, numa destas tardes, me dirigi a uma delas, que era das minhas preferidas, e descobri que tinha fechado: ver as portas e a montra fechadas deu-me a sensação de terem cortado, literalmente, um pedaço da rua - para mim, ver a rua sem aquela livraria aberta, na qual comprei livros que tanto me enriqueceram, foi como ver o coto de um membro amputado. Há coisas para as quais não tenho estômago - e a morte da cultura é uma delas.

Apareçam, indignem-se e, sobretudo, comprem um livro.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Trezentos anos de Luís António Verney


Assinalando os trezentos anos do nascimento do polímate setecentista português Luís António Verney, mais conhecido pela autoria do livro O Verdadeiro Método de Estudar (1746), realizar-se-á uma conferência sobre a sua vida e obra na Biblioteca Nacional, no próximo dia 23 (terça-feira), às 18H00, com as participações dos oradores Octávio dos Santos, António Braz Teixeira, Pinharanda Gomes e Renato Epifânio, reconhecidos autores de obra literária e filosófica que, entre outras preocupações, perscruta a problemática da portugalidade.

Estrangeirado, Verney foi, também, uma mente preocupada com a portugalidade e com o estado das coisas do seu tempo, surgindo, de imediato, como um dos Aufklärer mais luminosos da nossa história. Aliás, foi um dos primeiros (talvez o primeiro) pensadores portugueses a desacreditar publicamente o Milagre de Ourique («é bem claro que isto tem aparências de comédia», escreveu na Carta 6 de O Verdadeiro Método de Estudar), que foi, até ao século XIX, a pedra basilar do edifício histórico nacional, no que concerne à fundação de Portugal - só a partir das invectivas de Alexandre Herculano (que chamou «essa fábula» ao Milagre de Ourique, atrevimento que lhe valeu violentos ataques pessoais por parte da elite oitocentista) é que essa visão mitológica da história de Portugal começou a ser recusada, em benefício de uma histografia factual. Contudo, a iconoclastia intelectual de Verney tem de ser contextualizada e lida à lente de um período em que o viço de um racionalismo ainda infante irrompia com irascibilidade contra tudo aquilo que era considerado inimigo da Luz e da Razão: só assim se explicam os ataques algo absurdos que pugnou contra a poesia de Camões e a prosa de Vieira.

Mas aquilo que, na minha opinião, não foi perdoado a Verney nem sequer foi a crítica antijesuítica (velada, ainda por cima, pela dedicatória irónica que abre O Verdadeiro Método de Estudar: trecho que lhe valeu, em 1771, no âmbito da perseguição à Companhia de Jesus, acusações de simpatia inaciana e a expropriação dos seus bens e a expulsão de Roma, onde residia na altura) ou a iconoclastia dirigida ao imaginário mitíco-religioso nacional: foi o facto de ter sido um feroz inimigo da falsa cultura - dos pseudo-intelectuais que, gazofilando génio alheio, agalonam-se de gigantes não passando de anões. A esses, Verney não perdou e dedicou-lhes as prosas mais derrisórias, mais enxovalhantes. Um erro crucial, num país anquilosado no nepotismo, no misoneísmo e fóbico de meritocracia.

No Portugal de hoje, como no de ontem, talvez ainda se marginalizasse Verney. Mas, autonomamente a isso, o facto de estarmos a falar sobre ele e sobre a sua obra, trezentos anos depois do seu nascimento, é a prova definitiva de que é impossível marginalizar ideias.

terça-feira, 16 de julho de 2013

A diferença que uma letra faz


Middle C, o novo romance do mestre William H. Gass (que fará oitenta e nove anos de idade no próximo dia 30), já saiu e, tomando o todo pela parte que espreitei, é uma colossal bomba, mas ainda haverá leitores capazes de lê-lo? Nunca se terá lido tão mal quanto hoje.

A propósito disso, cunhei um aforismo que partilho convosco. Antes pensava-se: "Não sou capaz de ler isto - não presto"; hoje pensa-se: "Não sou capaz de ler isto - não presta".
Parecendo que não, uma única letra faz toda a diferença.

«Se Não Podes Juntar-te a Eles, Vence-os»


Se Não Podes Juntar-te a Eles, Vence-os é o título do primeiro romance do argumentista, músico e realizador Filipe Homem Fonseca (Herman Enciclopédia, Paraíso Filmes, Bocage, entre outros). Uma edição da Divina Comédia Editores. O lançamento está marcado para o próximo dia 18 (quinta-feira), às 21H00, e terá lugar nas instalações da editora, na Rua da Conceição da Glória, nº75, em Lisboa.

O romance será apresentado pelo argumentista e escritor Rui Cardoso Martins e a actriz Maria Rueff e o poeta Miguel Martins lerão trechos da obra. O evento contará com um concerto da harpista Ana Isabel Dias.

Em simultâneo, pode ser apreciada nas mesmas instalações uma exposição artística de pranchas originais do desenhador Jorge Coelho: artista que já trabalhou comigo em diversas bandas desenhadas que escrevi.

Não faltem!

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Novo disco de Alice in Chains


The Devil Put Dinosaurs Here é o novo disco de Alice in Chains, o segundo com o novo vocalista William DuVall. É, em certa medida, o disco mais pesado que já fizeram, muito no espírito das músicas mais viscerais de Dirt, embora seja atravessado por uma espécie de dura melancolia, nem triste, nem raivosa, que incomoda que nem um vento quente a enrolar-se no pescoço, mas que também tem o condão de manter o ritmo geral em meia-velocidade: aqui não existem aceleramentos, nem abrandamentos, o que é uma pena, porque empresta uma falsa ideia de homogeneidade. Em suma: é bastante bom, certinho, bem produzido e com uma capa que tem truque (quem tiver comprado o disco é capaz de já ter percebido) - e bem catita, por sinal. Talvez seja difícil para um disco como The Devil Put Dinosaurs Here competir, digamos assim, com o melhor material da banda, quando este se encontra, em grosso modo, nas canções acústicas, mas é um disco muito sólido, muito coeso. Assinale-se o facto de que é o segundo disco da nova fase de uma banda que perdeu um dos vocalistas de Rock mais versáteis e carismáticos de sempre e, mais uma vez, não só é um trabalho que não envergonha e que não soa a tributo, como evidencia de modo cristalino a relevância dos Alice in Chains, hoje. Ainda bem que os temos: que demorem a extinguir-se.




domingo, 7 de julho de 2013

Faz falta


Instituiu-se a ideia de que as ideias são tudo. Não é verdade. Os homens fazem falta. E os grandes homens, então, fazem muita falta.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Capa de «Palmas Para o Esquilo»


Eis a capa de Palmas Para o Esquilo: o meu novo livro de banda desenhada, com arte de Pedro Serpa e legendagem de Mário Freitas. A edição é da Kingpin Books e será lançado em meados de Setembro.