quarta-feira, 2 de julho de 2014

Coincidentia oppositorum

 
A gente vai envelhecendo e dá conta da fenomenicidade que é viver-se em tempo histórico e que, daqui a uma década ou duas, no mínimo, se irá ler sobre a actualidade do mesmo modo que, hoje, se lê sobre os meados do século XX. Quando somos jovens não nos apercebemos disso, porque o tempo demora muito a passar e tudo parece cristalizado num eterno presente - é um tempo de vista larga. Em oposição, quando o tempo passa mais depressa coarcta-nos o horizonte do visível; daí que as coisas terríveis e as coisas belas que, a esta altura, parecem ser produzidas por propulsões irreconciliáveis serão reunidas pela história do futuro próximo numa espécie de coincidentia oppositorum - menos mística que a boehmeana, mas, ainda assim, espera-se, liberta do ludíbrio.