quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Grandes livros de 2015


Este ano, reformulei a lógica de recomendações literárias de final de ano: em vez de escolher os "melhores" livros de 2015, escolhi os livros que, independentemente de serem os melhores do ano ou não -- sempre um critério subjectivo e não-livre de influências conjunturais --, me despertaram mais a atenção, pela sua originalidade e pertinência editorial; além disso -- e, neste aspecto, foi, de facto, uma orientação rigorosa --, somente escolhi livros escritos ou traduzidos em português (todos, claro, de não-ficção). No final de 2016, o(s) critério(s) será (serão) outro(s), certamente, mas este ano o resultado é o seguinte (sem qualquer ordem de preferência):

1) Animais e Companhia na História de Portugal (coord. Isabel Drumond Braga e Paulo Drumond Braga). Círculo de Leitores -- um livro espectacular que, de modo completíssimo, examina o papel e a presença dos animais, em múltiplos campos, ao longo da história de Portugal. Um volume essencial para o historiador e para quem gosta de animais.

2) Casas das Elites de Lisboa: Objectos, interiores e vivências - 1750-1830, de Carlos Franco. Scribe, Produções Culturais, Lda. -- análise profunda de uma vinheta temporal e social, partindo do estudo das vivências das elites lisboetas para chegar a uma tessitura mais densa, inserida no contexto nacional.

3) Casas com Escritos: Uma História da Habitação em Lisboa, de Margarida Acciaiuoli. Editorial Bizâncio -- em conjunto com a leitura do livro citado anteriormente, o panorama apresentado por esta obra ganha ainda mais fôlego. De facto, os estudos da vida quotidiana lisboeta, de meados do século XVIII até à actualidade, em principal nesta perspectiva direccionada para o espaço habitacional, ficam supinamente enriquecidos com estas edições de 2015.

4) História Política da Cultura Escrita, de Diogo Ramada Curto. Verbo -- excelente conjunto de ensaios e reflexões sobre o modo como a produção intelectual foi sendo instrumentalizada -- e influenciada -- pelo(s) poder(es) político(s) ou pelos poderes que, às tantas, também fizeram (e fazem) política.

5) Uma História da Curiosidade, de Alberto Manguel. Tinta-da-China -- ensaio sobre a curiosidade é uma definição redutora para este livro delicioso que, como podem ver pela fotografia que ilustra este texto, é o preferido do meu gato -- por sinal, bastante curioso.

6) História do Corpo (dir. Jean-Jacques Courtine, Alain Corbin, Georges Vigarello). Círculo de Leitores -- obra em seis volumes, na qual o corpo humano e suas representações e objectificações ao longo das eras são estudados com apuro numa abordagem interdisciplinar.

7) Racismos: Das Cruzadas ao Século XX, de Francisco Bethencourt. Temas e Debates -- já falei sobre a edição original deste livro (em inglês) na minha lista de fim de ano de 2014 e é essa a edição que podem ver na imagem; todavia, este ano foi dada à estampa a versão portuguesa deste ensaio sobre o racismo e não posso deixar de mencioná-la, pois é um trabalho destemido e inestimável.

Boas Festas -- leiam bons livros e, sobretudo, pensem sobre o que leram e entreteçam relações entre matérias, à partida, díspares, pois a variedade deleita o pensamento.
David Soares, Dezembro 2015.