domingo, 17 de julho de 2016

Sobre Aleixo, no dia de sua morte


Esta tábua quinhentista (1541), cuja autoria inquestionável é do pintor português Garcia Fernandes (activo entre 1514 e 1565), é conhecida pela maioria do público como sendo uma representação do terceiro casamento do rei D. Manuel I com D. Leonor de Castela, irmã de Carlos V (celebrado a 1518). Todavia, já em 1998, o historiador de arte português Joaquim de Oliveira Caetano propôs e fundamentou a tese de que a imagem mostra o episódio hagiológico do casamento forçado de Santo Aleixo com Sabina. Esta obra faria parte de um conjunto projectado pela oficina do artista para a primeira Igreja de São Roque, em Lisboa (com efeito, a tábua encontra-se em exposição no Museu São Roque da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa). Ora, Garcia Fernandes foi eleitor da Misericórdia de Lisboa e o quadro foi-lhe encomendado por D. Álvaro da Costa, o primeiro provedor das Misericórdias, que, provavelmente, se encontra representado na figura central do sacerdote que celebra o casamento. Sabe-se, igualmente, que poucos anos antes da realização da tábua foi anexada uma confraria de Santo Aleixo à Misericórdia (em 1538); por conseguinte, fortalecendo esta tese. Em analogia, outros pormenores contribuem para a interpretação aleixiana, como a ausência na personagem dita manuelina da insígnia da Ordem do Tosão de Ouro, que D. Manuel I recebeu pelo seu casamento com D. Leonor de Castela. É, pois, neste dia de Santo Aleixo (terá morrido a 17 de Julho) que evoco esta obra enigmática, cujo hirsuto protagonista tem sido utilizado em múltiplos livros de história e veículos televisivos de divulgação histórica como sendo um retrato de D. Manuel I e pelos quais contornos temos desenhado, à guisa de escantilhão, determinados aspectos da vida e façanhas de O Venturoso.